domingo, 9 de agosto de 2009

Zanotti, o revolucionário Italiano

Estamos em 1967, eu era estudante de Direito e Presidente do Grupo Cénico e da Assembleia Geral da Faculdade de Direito.
À saida de uma Assembleia um amigo de Medicina apresenta-me um revolucionário internacionalista. Era Italiano, tinha combatido contra o Mussolini, vinha de Argélia, etc.
Fiquei com ele para lhe arranjar uma pensão e falarmos no dia seguinte.
No novo encontro, o Zanotti de sua graça
- olha, tens de me arranjar uma pistola.
-uma pistola? eu não tenho pistolas nem armas nenhumas.
-ouvi dizer que tens.
-é mentira. Uma pistola...
-é para matar o Saccheti.
- o quê? matar o Saccheti. Isso é bestial. Olha, vou ver se consigo.
Claro que a partir daquele momento levei-o para uma casa de amigos para ficar debaixo de olho. Malta porreira mas que não estava metida em nada, serviam para vigiar o gajo e mais nada.
Passados uns dias disse-lhe que não conseguia a pistola e que o melhor era ele ir para Paris contactar com a malta que estava organizada porque em Portugal não havia nada. Meti o rapaz no comboio e meti-me no comboio seguinte para Paris.
Falei com o responsável da época. Era o João Quintela, morreu há pouco tempo, e essa organização era o incipiente Comité marxista-leninista. Fiquei descansado.
Passados meses fui ao Festival de Teatro de Nancy com o Cénico de Direito e no regresso, como habitualmente, passei por Paris. Fui ao café do costume, lá estavam os fervorosos militantes, e no meio, feliz e prazenteiro, pontificava o revolucionário Zanotti!!! O João Quintela informou-me que eu estava enganado, que era um gajo bestial a falar com as pessoas no bidonville, etc.
Meses depois fui obrigado a fugir para Paris e claro que não descansei enquanto não acabei com aquele arremedo de organização.
O Zanotti ficou lugar-tenente do Heduino, chefe provocatório em mil siuações. Como alguns se devem lembrar nas eleições para a Liga do Ensino.
Depois do 25 de Abril voltaram a esta ditosa e infeliz Pátria.
No fim dos anos 80 entrou em contacto comigo para dizer que escrevia poesia e que eu tinha toda a razão com o trabalho cultural. Eu estava a ensaiar " O Baile" no teatro da Trindade. À saida vi que tinham assaltado o meu 2 cavalos e roubado o guião da peça que eu estava a ensaiar.
Nunca mais o vi. Anos depois uma gajo que eu não conhecia veio informar-me que o Zanotti tinha sido morto à facada na tipografia do PCP-ML...e também me disse que em 1975 eles fabricavam dolares falsos com a protecção da Embaixada dos USA...
Como vêem, não são só as outras resistências que têm provocadores e estórias de merda.
Hélder Costa

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