domingo, 1 de novembro de 2009

15 Rue du Moulinet - I

Já não existe a Rue du Moulinet. Era em Paris, no trezième, entre a Place d’Italie e Tolbiac. Rua pacata de um só sentido. Na esquina um restaurante vietnamita barato, uma lavandaria, um talho de um casal de velhotes normandos que faziam milagres de uma carne com nervos, uma livraria talvez alfarrabista e casas baixas habitadas por pessoas comuns. Quando cheguei a Paris fui morar para o nº 15, chez Terèse, cooperante ausente no Mali. Uma vivenda com três pisos e muito espaço gerida pelo Vasco. O 15 Rue du Moulinet tornou-se rapidamente um centro de acolhimento de desertores do exército colonial português e, também, um local de encontro de emigrados, exilados, músicos e jovens francesas curiosas sobre o exotismo da nossa cultura e da nossa guerra. Grandes e secretas conspirações foram gizadas naquela cozinha à volta de uma especialidade preparada pelo Tino chamada molho americano e acompanhada, sempre que possível, por um Côtes du Rhone do ano. O molho americano era uma espécie de sopa de pedra cuja base era o refogado de tomate ao qual se acrescentava apenas mais tomate ou outras iguarias, tudo dependendo do fundo de maneio disponível.

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